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A primeira destilação que fiz já lá vai há uns aninhos, quando entusiasmada com a aromaterapia, frequentei um mini curso na universidade de Lisboa. Aí tive o privilégio de destilar flores de camomila, fiquei maravilhada com o processo e ainda mais com o resultado. Ainda era uma quantidade grande de material vegetal para obter poucas gotas de essência, o que me fez reflectir. Dum lado sai o hidrolato de camomila e do outro a alma da planta na forma de óleo essencial. É pura alquimia!
Sempre me interessei por processos alquímicos, não só como estes, mas acima de tudo pelas metamorfoses que internamente atravessamos para a nossa evolução, como ser humanos em busca do diamante que já somos, mas que vimos recordar. Daí a ALQUIMIA ser a palavra que mais uso no meu trabalho.
Enquanto procurarmos o diamante fora, apenas perdemos energia e tempo, e, nunca é demais recordar, que sempre fomos e sempre seremos o diamante que tanto procuramos. E quantas vezes esquecemos, adormecemos e cegamo-nos pela ilusão de que estamos vazias e sem valor, e o que existe fora é bastante mais apelativo e mais interessante.
Anestesiadas pelos holofotes e todo o tipo de ruídos que nos fazem sair do centro e abandonar a nossa casa, o diamante começa a perder o seu brilho, cai no abismo do esquecimento, ganha camadas e camadas de pó que se incrustam na sua pele luminosa e o seu brilho vai se apagando.
A chama apaga-se e passamos a acreditar na MENTIRA. A mentira que não temos valor inerente e que, todo e qualquer valor que possamos reconhecer em nós, vem de conhecimento, títulos, posses, likes e um sem número de compensações que são pura ilusão. Ficamos dependentes e cada vez mais viciadas em apreciação e elogios externos. A partir daqui começam todas as dinâmicas baseadas na comparação e competição, perfeccionismo, rigidez, ciúmes, possessividade, cobranças, etc…
Em conclusão, deixamos de viver desde o espaço de reconhecimento e confiança, que dentro vive o diamante mais valioso. Sem nos apercebemos passamos a viver sem poder interno e, por isso, facilmente entramos em dinâmicas de compensação ou tentativas de controlo.
Todos nós em algum grau sente na pele tudo isto e, neste momento, poderá sentir um incomodo que poderá ignorar ou, ao contrário, reconhecer… e quem ESCOLHE pela segunda opção entra no caminho da alquimia interna. Escolher sair da negação exige muita coragem.
Numa sociedade viciada na anestesia é muito fácil ignorar, passar ao lado, automaticamente escolher a distração, sem antes observar atentamente e SENTIR.
Sentir, não apenas com o pensamento ou como um entendimento intelectual que fica a voar no reino da mente, sem raizes para estabilizar e depois crescer. Desses “sentires” há muitos por aí e, por isso, fala-se muito, mas pratica-se pouco.
Mas se observares atentamente também treinas a tua capacidade de discernir quem fala o que pratica, de quem até pode falar muito bem, mas dum solo infértil, sem raizes, sem corpo e, por isso, sem sabedoria.
Já se sabe que conhecimento sem integração na vida, no corpo, não é sabedoria. E, por isso, o conhecimento por si só, somente serve para recordar o que já habita dentro.
E se há sabedoria que mais rejeitamos, é a mais instintiva e visceral, aquela que se refere ao corpo.
Po, o espírito do Pulmão e Intestino Grosso tem me ensinado tanto ao longo da minha vida a como regressar vezes sem conta à sabedoria mais primordial do meu corpo. Sempre que me esqueço e entro em modo de anestesia, lá vem outra vez recordar-me através dos problemas somáticos que já tive o privilégio de sentir. Sim, atrevo-me a afirmar PRIVILÉGIO porque a dor é um chamado do corpo. É um ORÁCULO. Convida-me a sair das distrações e a voltar a casa. Porque a dor, por si só, é APENAS e somente uma sensação. O problema é que não sentimos apenas a dor. Com a dor vem o julgamento, a crença e a emoção reprimida, que enquanto não expressada traz muito sofrimento.
Dor, quando destilada, é a sensação mais crua e visceral do corpo. O sofrimento é completamente opcional e está carregado de crenças autolimitantes e quantidades massivas de julgamento mental, com boas doses de emoções bloqueadas.
Mas nada está perdido! Nada disso! É possível destilar a dor ao ponto de obter êxtase! Bom, antes disso é possível destilar a dor até à sua textura mais granular, primordial, nua e crua. E gradualmente com o treino, aprender a transformar a dor num portal para o êxtase. Inicialmente níveis muito pequenos de êxtase que, com consistência e prática, são cada vez mais fáceis de se sentir e de se estabilizarem.
Apenas exige compromisso, devoção e treino. Não o treino de controlar a dor. Nada disso! Muito menos distrair da dor. O convite é o salto de fé, o verdadeiro e mais real salto de fé!
Confiar que a dor, quando habilidosamente destilada, é pura sensação. Um dom de inebriante fragrância que temos como ser humanos neste corpo. Não daquelas fragrâncias artificiais que mascaram os nossos cheiros naturais mais encantadores… refiro-me às substâncias que o nosso corpo produz naturalmente, que são as verdadeiras essências do nosso ser, tal como o óleo essencial é a alma da planta.
Um salto de fé em escolher RENDER e não controlar. Render e não agarrar a nada. É o salto de cair no abismo, sem chão, e ser salva apenas pela confiança, que mesmo sem garantias e com riscos, tudo estará bem, independentemente do resultado. É um momento de transição e de pressão, tal como a destilação ou o processo de geração dum metal precioso nos subsolos. A pressão é extremamente necessária em qualquer processo de transformação e metamorfose que conduz ao crescimento e evolução. Posso escolher controlar levando a uma massiva explosão (ou implosão) ou escolho render para relaxar e expandir…
Fez-me todo o sentido e aceitei o compromisso de treinar de forma muito regular. Mas confesso que é difícil. Não o processo por si só, que é o mais simples e natural que podemos imaginar. Mas quando estou lá, algo me tira também de lá. Aquela tentativa de me agarrar, mesmo que seja ao desconforto, é o que me tira de lá… Aquele momento de transição onde sou convidada a escolher render, mas ainda caio nas armadilhas desses ganchos que me fazem ser vítima porque escolho controlar. Aprendi, por experiência, que ser vítima é uma forma de controlo!
No entanto, já tive muitos momentos em que, por breves instantes, lá toquei e é incrível a sensação e o seu potencial latente. Nesses instantes, um silêncio e uma paz inunda todo o ser…
Mais sobre como destilar a dor, separando-a da emoção e do julgamento, poderás encontrar nesta nova Jornada de Alquimia Interna. Decidi acrescentar uma meditação que pratico quase diariamente. Não que sinta dor diariamente, mas sei que um dos desequilíbrios de Po é o adormecimento. Fazemos adormecer as nossas dores sem qualquer consciência, mas, no entanto, elas estão lá bem vivas dentro da sua cápsula. Essas dores encapsuladas durante muitos anos é o que muitas vezes leva à manifestação de cancros que numa fase inicial são normalmente indolores.
Na meditação também não procuro criar dor, apenas sigo o chamado da sensação física, corporal que mais me chama naquele momento. Há sempre algo, seja forma de desconforto, incomodo ou simplesmente um chamado que pode passar quase despercebido.
Tudo isto e muito mais (e sei que ainda mais estará por vir) é o que Po me tem ensinado nos últimos tempos com o meu problema de saúde. Agora posso colocar em prática aquilo que eu intelectualmente já sabia há muitos anos. E até já tinha experienciado, mas ainda na minha inocência e com pouca maturidade, e por isso esqueci com facilidade.
A maturidade vem das aprendizagens da grande Mestre Vida, assim como o diamante é polido com o grão da experiência.
Po é representado pelo tigre branco e, como todos os felinos, ensina-me a ser autónoma e a sair da dependência. Vou ganhando autonomia quando nutro e cuido do meu diamante interno. O cálice vai-se enchendo e gradualmente vou me sentindo mais completa e mais merecedora. Assumo ser Guardiã do Diamante e passo a viver desde o centro dos subsolos da pélvis (o lugar onde vive Po). Vou libertando-me da crença da insuficiência e escassez, abro-me à abundância (não uma abundância de excesso, mas de suficiência para relaxar, viver em plenitude e cumprir a minha missão). E, tal como todos os felinos, reconheço que enquanto não expressar a minha sensualidade, não estarei realmente a viver a partir da minha essência feminina.